A IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO RIO GRANDE DO SUL

A imigração alemã no Rio Grande do Sul

1824: Antes e Depois

A imigração alemã no Rio Grande do Sul
Prof. Telmo Lauro Müller,  Museu Histórico Visconde de São Leopoldo

*Telmo Lauro Müller

A propósito dos 180 anos

         É comum dividirmos a História de um país, de um Estado ou de um município em partes, tomando um fato como divisor de águas. Assim, a mais conhecida divisão tem a data de nascimento de Jesus Cristo como base. A História Geral é dividida em “Antes de Cristo” (AC) e “Depois de Cristo” (DC). Fatos marcantes na vida de alguns povos ou países, certamente, fazem subdivisões.

         No caso particular do Rio Grande do Sul, há uma data tão importante, que pode servir de divisor: a chegada dos primeiros imigrantes alemães à então Província de São Pedro do Rio Grande, no dia 25 de julho de 1824. O ano de 1824 é, pois, o momento que nos permite fazer a divisão em “antes” e “depois”. Isso não significa que essa data esteja indicando que “antes” foi melhor ou pior; que “depois” foi melhor ou pior. A data revela mudanças acentuadas que alteraram a seqüência dos fatos. Assim, “antes” temos a civilização portuguesa, por muitos chamada de açoriana, tendo o gado e toda gama de atividades decorrentes como centro de tudo. É o gaúcho, dono da campanha, região de onde nunca saiu porque sua vida era o gado, e gado é criado no campo. “Depois” a civilização alemã marca presença e irá caracterizar boa parte do Rio Grande para sempre.

         Este folheto pretende contar um pouco da História riograndense “depois” de 1824, a propósito dos 180 anos da imigração alemã, festejados neste ano de 2004. Comparados com os anos de existência de cidades alemãs como Koblenz, Trier ou Bonn, com mais de 2.000 anos de fundação, os 180 anos de São Leopoldo, primeiro núcleo de alemães no Rio Grande, representam apenas uma pontinha. Mas nem por isso menos importantes. Justamente o que se construiu pelo Rio Grande a fora nesse curto lapso de tempo é tão marcante a ponto de merecer este registro sintético.

Razões da emigração na Alemanha

         Quando se fala em imigração alemã há 180 anos, é bom pensar como eram as coisas naquele tempo, na Alemanha, no Brasil, no Rio Grande do Sul.

         O Brasil tinha meia dúzia de centros notóricos, como Rio de Janeiro, a capital do recém-criado Império Brasileiro; Salvador, antiga capital; Recife, São Paulo e núcleos mais provincianos como Porto Alegre. O Brasil era movido pelos escravos. De seu suor, sangue e lágrimas vivia a jovem nação. Açúcar, gado, cacau, pedras preciosas, tudo nascia de suas mãos. E como eles fossem em maior número do que os homens livres, é provável que esse fato levasse o Governo a pensar em imigrantes de outra categoria. O Rio Grande de São Pedro tinha Porto Alegre como capital. Ainda marcavam presença Viamão, Rio Pardo, Pelotas e Rio Grande, para citar apenas alguns núcleos. O gado constituía a grande riqueza, indelevelmente ligada à História do extremo sul. Aqui também o braço servil era uma realidade.

         Falar na Alemanha da época requer registrar que ela não existia como unidade nacional. Havia reinados, principados, ducados, independentes entre si. O que identificava a todos, e daí falarmos em Alemanha, era a língua. Na Idade Média, predominavam os dialetos. Ainda hoje a Alemanha é rica em dialetos. Com Lutero, ao traduzir a Bíblia para que os alemães pudessem lê-la, criou-se a língua alemã ou, simplesmente, o alemão. Ao uniformizar o idioma, havia um elo comum entre todos os departamentos políticos vindos da Idade Média. Logo, ao falarmos em imigrantes da Alemanha, antes de 1871, ano da unificação formalizada por Bismarck, referimo-nos às pessoas de fala alemã. Os passaportes da época registram a origem das pessoas como sendo da Prússia, de Schleswig-Holstein, Renânia, Hesse ou Pomerânia. Como todas falassem a mesma língua, a História só registra “alemães”. Mas isso não tira o mérito da imigração entre nós.

         Agora podemos perguntar – o que leva uma pessoa a deixar seu lugar de nascimento?

         Ora, com nossos imigrantes alemães houve, como em qualquer ser humano, o desejo natural de progredir,  visualização de novos horizontes em razão de situações existentes em sua terra natal.

         Na família alemã vamos encontrar o “Erbrecht” (morgadio), direito hereditário do filho mais velho. Como não houvesse mão-de-obra à disposição, eram comuns famílias com oito, dez ou mais filhos. A propaganda brasileira então feita na Alemanha deve ter produzido os efeitos desejados, já que muitos viam a grande oportunidade de terem suas terras próprias. E muita terra! Enfim, sessenta ou setenta hectares era muita terra. Não seria hora da realização de utopia de cada um? Outrossim, é preciso considerar que, ao tempo do início da imigração, a Alemanha saíra das Guerras Napoleônicas, que causaram uma devastação fácil de imaginar: lavouras destruídas seguidamente, moradias em chamas, mortes, dizimação da juventude masculina, a soldadesca deixando seus rastros junto ao elemento feminino… Quanto aos renanos, o maior número de imigrantes, suas terras sempre foram palco de lutas travadas ao longo do rio Reno, fato que pode explicar sua inquietação. Mais. A emigração começou em 1824, setenta anos depois da invenção da máquina a vapor, na Inglaterra, cujos efeitos técnicos começavam a se fazer sentir na Europa continental. A máquina dispensa mão-de-obra e a previsão de desemprego para tanta gente deve ter exercido sua influência sobre a emigração. Depois veremos que os artesãos, começando a perder suas oportunidades na Alemanha, foram aqui muito importantes, porque lançaram as bases da industrialização. Além desses fatores gerais, em cada região de onde provieram imigrantes com destaque para a Renânia, Vestfália e Pomerânia, havia fatores locais a influir na saída de seus filhos.

Razões da imigração no Brasil

Por que alemães vieram ao Brasil?

Quem sabia na Renânia que o Brasil existia?

Onde ficava esse Brasil?

         Nos meios políticos e governamentais certamente o Brasil era conhecido porque a filha de Francisco II, último Imperador do Sacro Império Romano de Nação Alemã, ao mesmo tempo, Francisco I, primeiro Imperador da Áustria, da Casa dos Habsburgos, era casada com o jovem Imperador Pedro I, da Casa de Bragança. O nome dessa mulher ressoou e ainda ressoa no Brasil, mormente no sul, em virtude da imigração alemã. A arquiduquesa Leopoldina Carolina Josefa contraiu matrimônio com D. Pedro, apenas príncipe, no dia 13 de maio de 1817, por procuração, em Viena. Pelas descrições, Leopoldina não era um “monumento” de beleza, mas seria simpática, cabelos louros, olhos azuis, atenciosa, inteligente, cativante. Ela conquistou os brasileiros, que a consideravam uma “mãe”, como registram os livros. E quanto mais os brasileiros ficaram conhecendo seu Imperador, com todos seus pecados, tanto mais Leopoldina subia no conceito deles. É fácil imaginar que o fato de uma princesa germânica ser a Imperatriz do Brasil tenha dado ênfase à imigração. Leopoldina sabia que sua antepassada, Imperatriz Maria Teresia, havia colonizado terras ao longo do Danúbio, para impedir o avanço dos turcos em direção ao centro da Europa, com ameaça ao território austríaco. O Brasil vivia uma situação parecida no sul. Ali constantemente havia invasões e atividades bélicas para manter as fronteiras brasileiras. A colonização mais intensa daquele pedaço de terra poderia ajudar a manter o equilíbrio geopolítico. Na verdade, os açorianos, então “donos” do Rio Grande, eram, também, os “eternos vigilantes”. Afirmava-se que dormiam com um olho só; o outro estava sempre aberto para ver o inimigo chegar.

         Colonizar o sul. Mas onde buscar os colonizadores?

         É claro que não viriam portugueses, de quem o Brasil acabara de se emancipar. Espanhóis, nem pensar, porque eram os inimigos naquela região. Franceses também não, porque um dia haviam invadido o Rio de Janeiro, fundando a “França Antártica”. Ingleses também não, porque igualmente haviam tentado instalar-se no Brasil. Holandeses fora de cogitação, pois estiveram 24 anos no Nordeste. Alemães. Leopoldina era alemã. A Prússia, que depois integraria a Alemanha, tinha um exército reconhecido e admirado por D. Pedro I, cujas tendências militaristas eram conhecidas. O Brasil precisava de soldados, já que os portugueses, com a Independência, haviam voltado para Portugal. Quem defenderia o Brasil? D. Pedro I interessou-se por mercenários alemães e, provavelmente, para não ser notado esse “movimento militarista”, passou a contratar também colonos que ocupariam as terras sulinas.

         Para proceder adequadamente, foi enviado à Alemanha Jorge Antônio von Schäffer, preposto do Império. A missão de Schäffer, embora exitosa, teve muitos percalços. A Europa estava impedindo que soldados saíssem como mercenários. Quem desejasse emigrar, deveria renunciar à nacionalidade e apresentar provas de que o país destinatário lhe daria nova nacionalidade. Os países europeus queriam prevenir-se contra futuras responsabilidades.

         O governo brasileiro oferecia: passagem paga; concessão de cidadania; concessão de lotes de terra livres e desimpedidos; suprimento com primeiras necessidades; materiais de trabalho e animais; isenção de impostos por alguns anos; liberdade de culto.

         No Brasil há uma expressão popular que diz: “Quando a esmola é demais, o pobre desconfia”. É muito possível que alguém considerasse a oferta grande demais. Isso iria confirmar-se mais tarde, porque chegar ao Rio Grande, mais especificamente a São Leopoldo, e receber um lote de terras a 30 ou 40 quilômetros distantes da sede, sem estradas, sem escolas, na mata virgem, deve ter provocado muitas lágrimas. Com relação à liberdade de culto oferecida – o Governo deveria prever que entre os imigrantes haveria luteranos – era inconstitucional, porque pela Constituição Imperial de 1824 a religião católica era oficial. Outros credos poderiam ser praticados, em caráter particular, em casas sem aparência exterior de templo.

A Feitoria do Linho-Cânhamo

Antes de falar nos primeiros imigrantes alemães, torna-se necessário dizer alguma coisa sobre a Real Feitoria do Linho-Cânhamo.

         Feitoria era um estabelecimento do Governo. Linho-cânhamo é uma planta herbácea de pequeno porte, da qual são extraídas fibras utilizadas na confecção de cordas e de velas para barcos. Muito provavelmente Portugal possuía plantações que forneciam aquela matéria- prima para sua frota de veleiros pelo mundo a fora. Aqui, na Província de São Pedro do Rio Grande, fundou-se uma Feitoria em Canguçu, na região de Pelotas, bem no sul da Província. Como não deu resultados, foi fechada e transferida para o Faxinal do Courita, à margem esquerda do rio dos Sinos, onde sua instalação se deu no dia 14 de outubro de 1788. Como qualquer outra propriedade agrícola da época, lá estava a casa-grande, de pedra, centro das atividades e moradia do feitor ou outra autoridade da Feitoria. Nas senzalas moravam os escravos. Havia ainda os galpões para animais e depósitos diversos. A produção era transportada para Porto Alegre pelo rio dos Sinos, primeira via econômica da região do Vale. Mas, provavelmente por ser movida a braço escravo, a Feitoria não deu o resultado esperado, sendo desativada no dia 31 de março de 1824, portanto 36 anos após sua fundação. Nessa mesma data, o Presidente da Província recebeu comunicação da Corte, dizendo que em terras da Feitoria seria iniciada uma colônia com imigrante alemães.

A primeira leva de imigrantes

         Os imigrantes contratados por conta do Governo brasileiro por Jorge Antônio von Schäffer na Alemanha e componentes da primeira leva, depois de passarem pelo Rio de Janeiro, chegaram a Porto Alegre em 18 de julho de 1824. Seguindo instruções recebidas, o Presidente da Província, José Feliciano Fernandes Pinheiro, encaminhou os imigrantes para a Feitoria desativada, à margem esquerda do Sinos.

         É fácil imaginar a viagem Sinos acima. Uma vegetação luxuriante, com árvores enormes e flores em profusão; muitos animais povoando as margens: jacarés, capivaras, ratões do banhado, fuinhas e, sem dúvida, alguma cobra deitada preguiçosamente sobre um tronco caído, ao vivo e em cores: garças, biguás, um mundo de pássaros coloridos. Numa palavra: um encanto! Um mundo novo à espera de quem fizera uma viagem de 12.000 quilômetros em busca de uma nova Pátria. Do rio, carretas de boi levaram os imigrantes até a Feitoria. Era o dia 25 de julho de 1824, um domingo, data da fundação do primeiro núcleo de colonização alemã no sul do Brasil, que viria a transformar-se na cidade de São Leopoldo. Reconhecida por todas as cidades de origem alemã no Estado, a data é festejada em todos os quadrantes.

        

 A primeira leva de imigrantes era formada pelas seguintes pessoas, num total de 39:

         Miguel Kräme e esposa Margarida, católicos.

         João Frederico Höpper, esposa Anna Margarida, filhos Anna Maria, Christóvão, João Ludovico, evangélicos.

         Paulo Hammel, esposa Maria Teresa, filhos Carlos e Antônio, católicos.

         João Henrique Otto Pfingsten, esposa Catarina, filhos Carolina, Dorothea, Frederico, Catarina, Maria, evangélicos.

         João Christiano Rust (Bust?), esposa Joana Margarida, filha Joana e Luiza, evangélicos.

         Henrique Timm, esposa Margarida Ana, filhos João Henrique, Ana Catarina, Catarina Margarida, Jorge e Jacob, evangélicos.

         Augusto Timm, esposa Catarina, filhos Christóvão e João, evangélicos.

         Gaspar Henrique Bentzen, cuja esposa morreu na viagem, um parente, Frederico Gross; o filho João Henrique, evangélicos.

         João Henrique Jaacks, esposa Catarina, filhos João Henrique e João Joaquim, evangélicos.

Em todas as colônias alemãs havia uma escolinha como esta da Picada Moinho, São Lourenço do Sul.

         Essas 39 pessoas, seis católicos e 33 evangélicos, são as fundadoras de São Leopoldo, nome e lugar então inexistentes, porque tudo se resumia à Feitoria do Linho-Cânhamo.

         É fácil imaginar o quadro na Feitoria com a chegada dos alemães.

         Um lugar nunca imaginado, gente de língua desconhecida e costumes estranhos. E por que tudo tinha um ar de abandono? Se a isso juntar-se um dia de inverno no Vale do Sinos com frio, cerração e umidade, a chegada deve ter causado impacto. Mas aquele dia ajudou a fazer um novo Rio Grande, razão para dividir-se sua História em “antes” e “depois” de 1824.

As entidades esportivas dos imigrantes alemães introduziram a ginástica em aparelhos. Na foto, atletas da Sociedade Ginástica de São Leopoldo

         Recebendo o nome oficial de “Colônia Alemã de São Leopoldo”, numa homenagem ao santo padroeiro de Leopoldina, o núcleo inicial, em poucos anos, estendeu-se por todo o vale do Sinos, já com milhares de imigrantes. O grande artífice da “Colônia Alemã” foi o Presidente José Feliciano Fernandes Pinheiro, que recebeu do Império, como era hábito a quem se destacasse, um título honorífico: Visconde de São Leopoldo, um nome invulgar nas páginas da História gaúcha.

         Ao escrever suas Memórias, no inverno de 1840, o Visconde referiu-se à “Colônia Alemã” com as seguintes palavras:

         “A fundação da Colônia Alemã de São Leopoldo é um dos fatos mais salientes de minha administração; e ser-me-á permitido confessar que muito me desvaneço de ver meu nome ligado a uma criação de resultados tão extensos, cuja realização promovi com máximo empenho. Por mim mesmo procedi ao exame e reconhecimento do local mais apropriado para assento da colônia; e assim passei os dias 13, 14 e 15 de dezembro de 1824, percorrendo todo o campo situado a um e outro lado do rio dos Sinos, pertencente à antiga Real Feitoria do Linho-Cânhamo. Organizei as instruções pelas quais se devia reger o inspetor interino, que nomeei; e a cada dia que passa, acrescenta a minha satisfação, assistindo ao reflorestamento e prosperidade deste auspicioso núcleo de colonização, o primeiro e mais importante do Brasil.”

         Entende-se, agora, por que o museu localizado em São Leopoldo e dedicado à imigração e colonização leva o nome do Visconde de São Leopoldo.

         A vinda dos imigrantes alemães mudou o visual do Rio Grande. Essas mudanças são de vária ordem.

         Na parte econômica, podemos referir que a produção agrícola em poucos anos floresceu, a ponto de a colônia abastecer a capital, Porto Alegre. Mais: ao lado do trabalho agrícola, os alemães também eram Handwerker, isto é, artesãos. Trabalhavam a madeira, o ferro, o couro, as fibras. Desse artesanato, na Alemanha, provieram muitos nomes próprios. Assim, Schmidt é ferreiro, Schuster, sapateiro; também Schuhmacher, sapateiro; Weber, tecelão; Zimmermann, carpinteiro; Schreiner, marceneiro; Schneider, alfaiate; Wagner, construtor de carroças; Müller, moleiro. Com seu trabalho, os artesãos formaram as bases da industrialização no Rio Grande. Não é para menos que o Vale do Sinos transformou-se numa extraordinária concentração industrial. Muitas grandes fábricas espalhadas pelas cidades de origem alemã começaram com um verdadeiro artesanato, em pequenas casinhas de porta e janela, onde tudo era feito à mão. Aurélio Porto, na importante obra O Trabalho Alemão no Rio Grande do Sul, 1934, diz que a palavra serigote, um tipo de sela, provém do alemão. Os seleiros de São Leopoldo produziam bons produtos, adquiridos pelos gaúchos de Cima da Serra (São Francisco de Paula) como sendo sehr gut, isto é, “muito bons”. Desse sehr gut teria vindo a palavra serigote.

         Na parte cultural merecem citação muito especial as escolas. Não as encontradas aqui, os colonos as criaram para ensinar as crianças a ler, escrever e fazer contas. Assim surgiram as escolas de comunidade, em alemão Gemeindeschule. Não havia picada, lá no fundo do mato, onde não funcionasse uma escolinha. As crianças vinham de longe, até de um raio de 4 ou 5 quilômetros. Algumas vinham a cavalo. O material de aula era simples: a lousa, em alemão Tafel; o lápis de pedra, em alemão Griffel, e mais tarde a cartilha, em alemão Lesebuch. Aumentadas em número a cada ano e espaços, essas escolas garantiram a luz das letras a milhares e milhares de pessoas. Por volta de 1938 eram mais de mil escolas coloniais. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra o menor número de analfabetos na “Colônia Alemã”.

         Ainda na parte cultural, podemos dizer que os alemães têm um caráter muito associativo, isto é, gostam ou até precisam viver em grupos. O clima frio deve ter sua influência sobre tal comportamento. Já nos climas quentes as pessoas andam soltas, fora de casa, sem o aconchego  da lareira. A intensa vida em família e os encontros nos locais de lazer, nos clubes, fez surgir grupos de música, de teatro, de canto. Assim o canto coral, tão intenso em nosso Estado, a ponto de haver uma Federação de Coros, é uma das grandes heranças alemãs. Não há vila de origem alemã onde não se canta em grupos masculinos, femininos ou mistos. No mínimo, nas comunidades religiosas há um pequeno coro que abrilhanta os cultos, acompanha enterros ou alegra as festas de igreja.

         Disso decorre a importante contribuição alemã à vida associativa no Rio Grande do Sul. Isolados nas colônias, sua vida só podia ser igual à que levaram em sua terra de origem. A língua alemã era sua língua, mas aos poucos aprenderam a português e acabaram por germanizar muitas palavras, como

Carreta – carret

Laranja – range

Jararaca – scharak.

         Dessa junção lingüística resultou um dialeto local, ou seja, uma mistura do dialeto Hunsrück, trazido pelos imigrantes renanos, com o português.

         Trabalho, muito trabalho, de sol a sol, mãos calejadas, homens, mulheres e jovens tinham no domingo o dia especial de louvar e agradecer a Deus. Os cultos e as missas reuniam a todos. No fundo, isso constituía um grande encontro social, pois moravam afastados uns dos outros. Dessa necessidade de vida em sociedade e saudosos do lazer em sua terra natal, nasceram as sociedades que marcaram e ainda marcam a vida social em nosso Estado: Turnverein, Sociedade de Ginástica; Gesangverein, Sociedade de Canto; Schützenverein; Sociedade de Atiradores. Onde houver influência alemã, uma delas, quando não todas, são elementos importantes. Muitas delas são centenárias: Sociedade Germânia, Porto Alegre, 1855; Sociedade Orfeu, São Leopoldo, 1858; Sociedade Leopoldina, Porto Alegre, 1863; SOGIPA, Porto Alegre, 1867; Sociedade Atiradores, São Leopoldo, 1878; Sociedade Ginástica, São Leopoldo, 1885; Sociedade Aliança, Novo Hamburgo, 1888; Sociedade Atiradores, Novo Hamburgo, 1892; Sociedade Ginástica, Novo Hamburgo, 1894; Sociedade de Canto União, Estância Velha, 1894. Deve haver outras centenárias que não são de nosso conhecimento.

         Escolas, sociedades, grupos de amparo mútuo, mais tarde hospitais, tudo mostra a maneira de viver em sociedade, isto é, associativamente, dos imigrantes e seus descendentes. Há ainda um outro aspecto marcante desse espírito.

         Os padres jesuítas alemães, chegados em São Leopoldo em 1859, e de larga atuação pelas colônias, reuniam os colonos em agrupamentos chamados também de Verein. O Bauernverein, Sociedade de Agricultores, foi uma delas, com grande influência na formação dos colonos. Em 1912 foi fundado o Volksverein, Sociedade União Popular, ainda hoje existente, com sede em Nova Petrópolis. E um religioso jesuíta, Theodor Amstad, foi o idealizador de um sistema de poupança chamado Raiffeisen, através das Caixas Rurais.

A expansão dos núcleos coloniais

A “Colônia Alemã de São Leopoldo” se estendia de Sapucaia do Sul, ao sul, até o Campo dos Bugres, hoje Caxias do Sul, ao norte; de Taquara, ao leste, até Montenegro, a oeste. Eram as grandes terras formadas pelos rios Sinos e Caí. Com a vinda de mais imigrantes, surgiram novos núcleos nos vales do Rio Taquari (Estrela, Lajeado, Teutônia e outros), dos rios Pardo e Pardinho (Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, Candelária), no sul do Estado (São Lourenço do Sul). Os núcleos aqui citados e outros em suas imediações são chamados de “segunda geração”. No fim do século passado e começo do atual, entra em cena a “Serra”, com Ijuí, Santa Rosa, Panambi, Cerro Largo e dezenas de outros municípios. Aliás, os imigrantes, a partir de 1824, e depois os descendentes em terceira, quarta e quinta gerações, fizeram uma verdadeira marcha pelo Brasil. Atravessando o rio Uruguai, ocuparam o oeste catarinense, depois o oeste do Paraná, o Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e hoje já alcançaram Rondônia, onde olhos azuis e cabelos loiros mais a língua alemã falam do Rio Grande do Sul com saudade enquanto tomam o inseparável chimarrão.

         Não é de se estranhar, portanto, que todos esses lugares e dezenas de outros apreciem a música de bandinhas, a galinha assada no formo, a assado de porco, a verdura, o chucrute ou Sauerkraut, a salsicha, o pão de centeio, a cerveja. Coisas do gosto de todos, pois quem é que não gosta de uma comida colonial?

Cozinha Colonial

         Afirmações como “o amor passa pelo estômago” devem ser comuns a todas as sociedades humanas. Assim, com a cozinha alemã não deve ser diferente, pelos pratos que fazem a delícia de muitos.

         No começo da colonização não deve ter sido fácil para os imigrantes a adaptação aos diferentes locais, já que os seus próprios viriam somente com o correr do tempo. Assim, aipim, batata-doce, feijão preto, pão de milho, beiju e outras iguarias devem ter encontrado resistência natural.

         Aos poucos, a cozinha alemã foi tomando pé e hoje se festeja um assado de porco, uma galinha recheada, um chucrute, uma salsicha bock, um pirê de batata, um prato de verdura ou as inigualáveis sobremessas, cucas e tortas. A palavra “Apfelstrudel” produz água na boca. Hoje temos restaurantes especializados em comidas alemãs. E se for regado com uma cervejinha ou um chope, então não falta mais nada.

         A esta altura do texto, pelos 180 anos de imigração alemã, façamos um brinde como sempre se fez na colônia alemã – Prosit! ou Prost!, isto é, Saúde!

A nacionalização

         A década de trinta, neste século, marcou momentos difíceis para a “colônia alemã”. Foi a época das grandes ditaduras: Salazar em Portugal, Mussolini na Itália, Stalin na Rússia, Hitler na Alemanha, Vargas no Brasil. Todas as ditaduras têm muita coisa em comum: vivem da centralização do governo, tudo fazem para espalhar sua influência, perseguem pessoas que não lhes são dóceis, impõem seus métodos e chegam ao extremo de liquidar pessoas, caso entendam necessário. E tudo isso como se fosse a coisa mais natural do mundo.

         A ideologia hitlerista teve muitos adeptos em vários países. No Brasil, o ditador Vargas era inicialmente um dos simpatizantes. A “colônia alemã”, não só no Rio Grande do Sul, como também em outros Estados, sofreu a influência de agentes alemães que procuravam expandir o nazismo, encontrando simpatizantes e alguns adeptos. Mas daí a concluir, como se afirmava, que “os colonos alemães eram nazistas”, vai uma imensurável distância. Situação idêntica passaram os colonos italianos em relação ao fascismo.

Monumento do Centenário da Imigração Alemã erguido em 1924. É um marco de São Leopoldo.

         Procurando contrabalançar a propaganda hitlerista, o governo Vargas fez uso de uma estratégica chamada “Nacionalização”. Através dela o governo tencionou minimizar a eventual influência germânica de caráter político. Como em todos os movimentos desse gênero, houve acertos e exageros. Quem sabe, mais exageros do que acertos. Se de um lado pretendia integrar mais rapidamente e melhor os descendentes de alemães, atitude até louvável, por outro não se pode esquecer que o governo, desde o início da colonização, pouco ou nada fez para essa integração por via natural, isto é pela absorção dos imigrantes com o correr do tempo. Na verdade, os colonos se viram obrigados a fazer insistentes pedidos para verem atendidas as suas reivindicações. A construção e o conserto das estradas era demorado e havia pouco interesse em saber como os colonos viviam lá no fundo das picadas, com dificuldades de comunicação e problemas de saúde pública. Como o governo não abria escolas, elas eram feitas pelas próprias comunidades, como é próprio do espírito germânico. A nacionalização proibiu o uso da língua alemã, os jornais e outras publicações em língua alemã, proibiu cultos em idioma alemão e as reuniões nas sociedades, cuja administração deveria ser toda em português. E mais: lançada a suspeita a todos os professores – eram mais de mil entre católicos e evangélicos – foram fechadas escolas por todos os recantos. Como o governo não tivesse condições de absorver todos os alunos imediatamente, é fácil compreender a situação caótica então criada.

         Espalhando alegria com bailes, festas, teatros e canto, as sociedades ficaram caladas. O medo instalara-se na colônia. Por natureza, o colono já mantinha certa reserva. Agora mais ainda. Mesmo assim, ninguém deixava de cumprir fielmente seus deveres, com o pagamento dos impostos rigorosamente em dia. Mais um elemento sofreu durante a nacionalização: as tradições, que, como se lê num Centro de Tradições Gaúchas (CTG) de São Leopoldo, “são a alma de um povo”. Esta alma foi contestada e os colonos e até moradores das cidades abandonaram as danças típicas, deixaram de cantar na língua dos antepassados, o kerb perdeu sua beleza, a Festa dos Atiradores ficou prejudicada. Uma geração inteira perdeu suas raízes. E isso é grave porque o homem precisa saber quem é, de onde veio e para onde vai. Caso contrário, fica solto no espaço, sem identidade. O desaprendizado da língua foi uma perda irrecuperável. Durante a Segunda Guerra esse quadro acentuou-se. Só depois dela, aos poucos, a vida na colônia voltaria a se aproximar do ritmo antigo. Hoje a língua alemã é ensinada também em escolas públicas e as bandinhas fazem a alegria de quantos gostam do lazer da colônia.

         Águas passadas não movem moinho, diz um ditado popular.

         O que passou, passou, mas é bom reconhecer que muitas autoridades, no interior, agiram de modo comedido porque conheciam a comunidade onde atuavam e sabiam que ali havia bons brasileiros, cujo “pecado” era a sua descendência alemã. Infelizmente, os poucos propagandistas de ideologia estranha, que motivou tudo isso, não pagaram sozinhos pelo que fizeram.

         Problemas à parte, o importante é que hoje, até pela situação geral no mundo, com a queda de tradicionais barreiras entre os povos (basta lembrar o Muro de Berlim), as ditaduras estão varridas e há um sentimento de fraternidade bafejando a todos. No Rio Grande do Sul, a cultura alemã voltou a ocupar seu espaço: grupos de danças existem às dúzias; as bandinhas com instrumentos de sopro voltam a tocar velhas músicas alemãs; a língua alemã é hoje uma necessidade em termos de ligações com a Europa. Novas fábricas, filiais de matrizes alemãs, contribuem para nossa economia. Na UNISINOS, em São Leopoldo, funciona o Instituto de Formação de Professores de Língua Alemã (IFPLA). Uma nova situação promovida por gente culta, inteligente, respeitosa.

         Tudo isso vem a propósito dos 180 anos de imigração alemã, que, euforicamente, foi festejada no dia 25 de julho de 2004. Olhando a programação geral elaborada pela Companhia Rio-Grandense de Turismo (CRTur) para marcar tão importante data, vê-se que pelo Rio Grande afora há muitas atividades sociais, culturais e outras ligadas à economia com as quais cada lugar prestará sua homenagem aos antepassados. Cabe, pois, agora, transcrever a inscrição no monumento do centenário da imigração, em São Leopoldo:

“Den Vätern zum Gedächtnis”

Em memória de nossos antepassados.

Figuras ilustres

Breve relação de nomes ilustres de alemães ou de descendentes, já falecidos, que se destacaram em diversos setores da vida gaúcha, anotados ao correr da máquina.

Colonização

Johann Daniel Hillebrand, Peter Kleudgen, Jacob Rheingantz, Hermann Faulhaber

Política

Arno Phillip, Guilherme Gaelzer Neto, Lindolfo Collor, Alberto Bins, Wolfram Metzler, Egidio Michaelsen, Siegfried Heuser, Wilhelm von Ter Brüggen, Edgar Luiz Schneider, Jacob Kroeff Neto, Frederico Linck, Edmundo Bastian, Bruno Born, Antônio Campani, Albano Volkmer, Gastão Englert

Jornalismo

Karl von Koseritz, Hugo Metzler, Franz Metzler, Caesar Reinhardt, Germano Gundlach, Ulrich Löw

Ensino

Emilio Meyer, Augusto Geisel, Luiz Englert, Hans Grimm, Mathias Schütz, Theodor Grimm

Economia

Otto Ernst Meyer/VARIG, Antonio João Renner, João Wallig, João Gerdau, Frederico Mentz, Bopp, Sassen, Ritter/Continental, Alberto Bins/BERTA, Jacob Blauth, Jacob Becker, Jacob Arnt, Jacob Michaelsen, Carlos Trein F°, Luis Rau, Emil Schenk, J. Aloys Friedrichs, Pedro Adams F°, Ernesto Neugebauer

Ciência

Pe. Balduino Rambo SJ, Hermann von Ihering, Rudolf con Ihering, Pe. Aloisio Sehnem SJ, Alarich Schulz

Religião/Ensino

Pe. Ambrosio Schupp SJ, Pe. Carlos Teschauer SJ, Pe. João Batista Hafkemeyer SJ, Pe. Luiz Gonzaga Jaeger SJ, Pe. João Rick SJ, Pe. Urbano Thiesen SJ, Pe. João Batista Reus SJ, Pe. Werner von und zur Mühlen SJ, Pastor Wilhelm Rotermund, Pastor Hermann Dohms, Pastor Karl Gottschald, Pastor Karl Hunsche, D. João Becker, D. Vicente Scherer

Letras

Augusto Meyer, Walter Spalding, Clodomir Vianna Moog, Erich Fausel, Pe. Mathias Gansweidt SJ, Robert Avé-Lallement

Esporte

Willy Seewald, Júlio Kunz, Celso Morbach

Arte

Pedro Weingärtner, José Lutzenberger, Max Brückner, Léo Schneider, Roberto Eggers, Samuel Dietschi, Herrman Rudolf Wendroth, Max Maschler

Arquitetura/Engenharia

Josef Grünewald, Theo Wieder-spahn

Bibliografia

Pequena listagem de livros que tratam da imigração e colonização alemãs sob vários aspectos.

Anais, Simpósio de História da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul, São Leopoldo, volumes I, II, III, IV, V e X.

Becker, Klaus. Alemães e Descendentes na Guerra do Paraguai. Canoas: Hilgert, 1968.

___. Enciclopédia Rio-Grandense. Porto Alegre: Sulina, 1968.

Bento, Claudio Moreira. Estrangeiros e Descendentes na História Militar do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: A Nação DAC/SEC, 1976.

Coaracy, Vivaldo. A Colônia de São Lourenço e seu Fundador Jacob Rheingatz, São Paulo: Saraiva, 1957.

Comissão do Sesquicentenário da Imigração Alemã/Álbum Oficial. Porto Alegre: Edel, 1974.

Dreher, Martin N. Igreja e Germanidade. Porto Alegre: EST, 1984.

Flores, Hilda. Memórias de um Imigrante Boêmio. Porto Alegre: EST, 1981.

Fouquet, Carlos. O Imigrante Alemão. São Paulo: Instituto Hans Staden, 1974.

Gertz, René E. O Perigo Alemão. Porto Alegre: UFRGS, 1991.

Hunsche, Carlos Henrique. O Biênio 1824/25 da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: A Nação, 1975.

___. O Ano de 1826 da Imigração e Colonização Alemã no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Metrópole, 1977.

Kipper, Maria Hoppe. A Campanha de Nacionalização em Santa Cruz. Santa Cruz do Sul: AESC, 1979.

Koch, Walter. Der Kolonist im Spiegel der Erzählungen des Koseritz-Kalenders. Porto Alegre: EMMA, 1964.

Kreutz, Lúcio. O Professor Paroquial. Magistério e Imigração Alemã. Porto Alegre: UFRGS, UFSC, EDUCS, 1991.

Lemos, Juvêncio Saldanha. Os Mercenários do Imperador. Porto Alegre: Palmarinca, 1993.

Martin, Hardy. Santa Cruz do Sul de Colônia a Freguesia. Porto Alegre: EDUC/EST, 1979.

Moehlecke, Germano O. Os Imigrantes Alemães e a Revolução Farroupilha. Porto Alegre: EDUCS, 1986.

Moraes, Carlos de Souza. O Colono Alemão. Porto Alegre: EST, 1981.

Müller, Telmo Lauro. Cozinha Alemã. São Leopoldo: Rotermund, 1976.

___. Colônia Alemã. Histórias e Memórias. UCS/EST, 1978.

___. Colônia Alemã. Imagens do Passado. EST, 1981.

___. Colônia Alemã – 160 Anos de História. EST/EDUCS, 1984.

___. Sociedade Ginástica São Leopoldo/Cem Anos de História. São Leopoldo: Rotermund, 1986.

Oberacker, Carlos Henrique Jr. A Contribuição Teuta à Formação da Nação Brasileira. Presença, 1968.

___. Jorge Antônio von Schaeffer. Porto Alegre: Metrópole/DAC/SEC, 1975.

Porto, Aurélio. O Trabalho Alemão no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Santa Teresinha, 1934.

Roche, Jean. A Colonização Alemã e o Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Globo, 1969.

Schilling, Voltaire et al. Culturas em Movimento. Guaíba: Riocell, 1992.

Truda, F. de Leonardo. A Colonização Alemã no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Tip. do Centro, 1930.

Verband Deutscher Vereine (Federação das Sociedades Alemãs). Hundert Jahre Deutschtum in Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Tip. do Centro, 1924.

Visconde de São Leopoldo. Anais da Província de São Pedro. Rio de Janeiro: INL, 1946.

Weimer, Günter. Arquitetura da Imigração Alemã. Porto Alegre: UFRGS, 1983.

*O prof. Telmo Lauro Muller é diretor do Museu Histórico Visconde de São Leopoldo – www.museuhistoricosl.com.br


Fonte: http://www2.brasilalemanha.com.br/1824_antes.htm

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