Os colonos germânicos de São Paulo, apesar de terem enfrentado mais obstáculos que seus conterrâneos do Sul do país por causa da falta de núcleos comuns, tiveram papel fundamental para o desenvolvimento da capital paulista no século XIX.
Ao contrário do que pode parecer, São Paulo também recebeu inúmeros imigrantes alemães durante o século XIX. Parte dessa história é resgatada no livro Uma São Paulo Alemã, de Sílvia Cristina Lambert Siriani. A autora conta que esses imigrantes não chegaram a criar um bairro próprio, como o Liberdade, que concentra a colônia japonesa, ou o Bexiga, que reúne italianos. “Talvez por isso o historiador perca um pouco a dimensão da importância da vinda dos alemães para São Paulo, que foi de extremo valor para a cidade, apesar de esses imigrantes perderem em quantidade para outros povos”, diz.
A presença desses colonos foi marcante tanto para o desenvolvimento do comércio e da indústria local quanto para o processo de urbanização. Os alemães foram pioneiros em uma série de atividades, como na indústria de fundição de ferro e na produção de chapéus — até sua chegada, não havia fábrica desse produto em São Paulo. Também foram importantes no setor de tipografia, com as editoras. “Alguns vinham como mão-de-obra especializada, contratados pelo governo provincial. Foram imprescindíveis, por exemplo, na urbanização de São Paulo, pois eram engenheiros e mestres-de-obras numa época em que não existia esse tipo de formação no Brasil”, conta Siriani.
Eles contribuíram muito para a área sociocultural com a fundação do Clube Germânia em meados de 1870 (hoje Clube Pinheiros), a Sociedade Filarmônica Lira (localizada no Campo Belo) e o Instituto Martius-Staden de Ciências, Letras e Intercâmbio Cultural Brasileiro-Alemão.
A chegada
“A chegada ao Brasil era um susto. Eles desembarcaram e se viram cercados pela Mata Atlântica”, relata Siriani. Os grupos católicos tiveram maior facilidade de adaptação que os luteranos, que mantiveram sua fé a duras penas, já que aqui não existiam templos ou pastores para a celebração dos cultos. A historiadora diz que muitos pais acabavam batizando os filhos na Igreja Católica por falta de opção. “Eles tiveram problemas para aprender nosso idioma, compreender os traços culturais locais e as leis e, principalmente, por causa da desconfiança da população local, que criou estereótipos em relação ao imigrante (explosivo, beberrão, fanfarrão, entre outros)”, explica.
A questão do idioma foi um fenômeno comum a todos os imigrantes germânicos da segunda geração e das subseqüentes. Eles perderam o contato com os dialetos falados por seus ancestrais. Ainda hoje, há descendentes desses imigrantes residindo em chácaras da região do Planalto Paulistano (Santo Amaro, Itapecerica, Parelheiros e Embu) que sequer conhecem a origem de seu sobrenome.
“Para os alemães que permaneceram na capital, o fenômeno foi o mesmo”, diz Siriani. Ela explica que a situação só melhorou com a criação das primeiras escolas alemãs da cidade de São Paulo (por volta de 1870), que facilitou a permanência do idioma no seio das famílias e o intercâmbio cultural.
Fonte: http://www.educacional.com.br/reportagens/alemanha/saopaulo.asp